Na Curitiba de 1799 a elevação a noroeste do povoado parecia ideal para se construir a Igreja de São Francisco de Paula. Na hora do Angelus essa localização seria um convite á contemplação e à oração. Avistava-se dali a Serra do Mar e toda a cidade num ângulo de 380 graus. No declive, entre dois riachos, a vila com pouco mais de uma centena de casas caiadas de branco tinha ao centro a Catedral da padroeira, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
E os dois
santos pareciam rivalizar na devoção das famílias curitibanas.Durante o
século XIX a pequena ermida recebeu os devotos de São Francisco de Paula, mas
jamais se tornou uma grande igreja: ao se erguerem as paredes, essas
desmoronavam. Dizia-se que por vontade do próprio santo. Na
passagem para o século vinte essa capela ainda acolheu aqueles que
acreditavam ter chegado o fim do mundo: amparados por São Francisco viram o
cometa passar, e constataram que felizmente sua cauda não bateu na terra.
Anos depois,
com o advento da modernidade, optou-se pela demolição da capela, mas os fiéis,
atônitos diante das marretadas, detiveram a profanação e mantiveram a fachada,
marcando o limite entre o eterno e o efêmero. Desde então, muitas lendas
surgiram, entre elas, a dos túneis de Curitiba, que terminariam
exatamente nessa região.
Qual seria
sua finalidade?
A primeira
hipótese seria guardar os tesouros de um pirata inglês, naufragado em nosso
litoral, (mais especificamente em Guaratuba, na praia das Caieiras), onde até
hoje se avistam restos de sua embarcação.
Zulmiro
seria seu nome, (muito provavelmente uma derivação de seu nome inglês Sulmmers) ,e ele teria trazido esses tesouros em lombo de
burro até um terreno que possuía no atual Bosque Gutierrez, no bairro das
Mercês. Depois, teria sido capturado e executado na Inglaterra. Os tesouros,
várias panelas e arcas com moedas de ouro, teriam permanecido
enterrados nesta “rota “de vários quilômetros de percurso.
Lenda
ou verdade, a existência dos “túneis” de Curitiba foi realmente comprovada
recentemente (em 21 de janeiro de 2008) quando uma jovem em fuga caiu no
rio Belém, na altura do Centro Cívico (Avenida Cândido de Abreu) e percorreu
cerca de 3 quilômetros pelas galerias de água pluvial ,sendo resgatada cinco
horas depois na Avenida Visconde de Guarapuava na esquina com a rua
João Negrão.
Na região
das Mercês antigos moradores confirmam a existência de túneis:
um professor universitário aposentado da UFPR é um deles, tendo
dado seu testemunho ao programa radiofônico “Nossa História”, à revista “Coisa
Paralela” da UFPR e ao jornal “Gazeta do Povo”.Tendo passado a infância no
local, chegou a entrar por um dos túneis , e seu pai, fotógrafo,
documentou a façanha no ano de 1962.
O
túnel , descoberto em 1916 quando houve um grande alvoroço na cidade em busca
do “tesouro”,teria se conservado até o ano de 1926, e na teoria do arquiteto
aposentado , seria uma passagem secreta dos leprosos tratados no hospital que
havia na região. Com a transferência do Lazareto para São José dos Pinhais,
este teria perdido sua função.
Relatos de
pessoas ligadas ao “outro lado” do túnel, ou seja, à região do Alto São
Francisco, reforçam a teoria do “tesouro do pirata”.
Segundo
notícias de jornais da década de 40, quando Curitiba passou por grandes
reformas em nome da modernidade, um funcionário da antiga Companhia das Águas
(atual Sanepar) teria encontrado um operar uma retroescavadeira nas proximidades
das Ruínas de São Francisco, um dos potes com moedas de ouro. A história é confirmada
pelo filho de um antigo funcionário da companhia.
Visitando
o atual prédio do Museu Paranaense, originalmente residência da família
Garmatter,construída em 1929, pudemos observar, graças ao parecer da arqueóloga
da instituição, que “ os porões do mesmo possuem uma
arquitetura que não condiz com o restante da construção : parecem ser bem
anteriores “. Suas abóbadas tijoladas lembram o Colégio dos Jesuítas de
Paranaguá , onde teria sido encontrado até um velho mapa com um roteiro . As
abóbadas tijoladas também lembram a construção do túnel do Bosque
das Mercês.
No Clube
Concórdia de Curitiba, situado na mesma região do bairro São
Francisco, um alçapão no assoalho de um dos salões chama a atenção. E em
reportagem exibida pela televisão um ex-presidente percorreu o
túnel e mostrou, mais uma vez paredes tijoladas e abobadadas, desta
vez, interrompidas pelo alicerce de uma obra, um pouco mais recente.
Com
relação a este trecho do túnel, há mais uma hipótese: seria esconderijo de
alemães e italianos da Sociedade Garibaldi, também situada nas
proximidades, perseguidos em tempos de guerra?
O mistério
continua, e talvez alguns documentos e informações esquecidos ainda
possam esclarecer o grande mistério dos túneis de Curitiba.
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