segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lenda das Ruínas de São Francisco





        Na Curitiba de 1799 a elevação a noroeste do povoado parecia ideal para se construir a Igreja de São Francisco de Paula. Na hora do Angelus essa localização seria um convite á contemplação e à oração. Avistava-se  dali a Serra do Mar e  toda a cidade num ângulo de 380 graus. No declive, entre dois riachos, a vila com pouco mais de uma centena de casas caiadas de branco tinha ao centro a Catedral da padroeira,  Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.
E os dois santos pareciam rivalizar na devoção das famílias curitibanas.Durante o século XIX a pequena ermida recebeu os devotos de São Francisco de Paula, mas jamais se tornou uma grande igreja: ao se erguerem as paredes, essas desmoronavam. Dizia-se   que por vontade do próprio santo. Na passagem para o século vinte  essa capela ainda acolheu aqueles que acreditavam ter chegado o fim do mundo: amparados por São Francisco viram o cometa passar, e constataram que felizmente sua cauda não bateu na terra.
Anos depois, com o advento da modernidade, optou-se pela demolição da capela, mas os fiéis, atônitos diante das marretadas, detiveram a profanação e mantiveram a fachada, marcando o limite entre o eterno e o efêmero. Desde então, muitas lendas surgiram, entre elas, a  dos túneis de Curitiba, que terminariam exatamente nessa região.
Qual seria sua finalidade?
      A primeira hipótese seria guardar os tesouros de um pirata inglês, naufragado em nosso litoral, (mais especificamente em Guaratuba, na praia das Caieiras), onde até hoje se avistam restos de sua embarcação.
Zulmiro seria seu nome, (muito provavelmente uma derivação de seu nome inglês Sulmmers) ,e ele teria trazido esses  tesouros em lombo de burro até um terreno que possuía no atual Bosque Gutierrez, no bairro das Mercês. Depois, teria sido capturado e executado na Inglaterra. Os tesouros, várias panelas e arcas com  moedas de ouro, teriam permanecido enterrados nesta “rota “de vários quilômetros de percurso.
 Lenda ou verdade, a existência dos “túneis” de Curitiba foi realmente comprovada recentemente (em 21 de janeiro de 2008) quando uma jovem em fuga caiu  no rio Belém, na altura do Centro Cívico (Avenida Cândido de Abreu) e percorreu cerca de 3 quilômetros pelas galerias de água pluvial ,sendo resgatada cinco horas depois na Avenida Visconde de Guarapuava na  esquina com a rua João Negrão.
Na região das Mercês antigos moradores confirmam a existência de túneis: um professor universitário aposentado da UFPR  é um deles, tendo dado seu testemunho ao programa radiofônico “Nossa História”, à revista “Coisa Paralela” da UFPR e ao jornal “Gazeta do Povo”.Tendo passado a infância no local, chegou a entrar por um dos túneis , e seu pai, fotógrafo, documentou a façanha no ano de 1962.
   O túnel , descoberto em 1916 quando houve um grande alvoroço na cidade em busca do “tesouro”,teria se conservado até o ano de 1926, e na teoria do arquiteto aposentado , seria uma passagem secreta dos leprosos tratados no hospital que havia na região. Com a transferência do Lazareto para São José dos Pinhais, este teria perdido sua função.
Relatos de pessoas ligadas ao “outro lado” do túnel, ou seja, à região do Alto São Francisco, reforçam a teoria do  “tesouro do pirata”.
Segundo notícias de jornais da década de 40, quando Curitiba passou por grandes reformas em nome da modernidade, um funcionário da antiga Companhia das Águas (atual Sanepar) teria encontrado um operar uma retroescavadeira nas proximidades das Ruínas de São Francisco, um dos potes com moedas de ouro. A história é confirmada pelo filho de um antigo funcionário da companhia.
Visitando o atual prédio do Museu Paranaense, originalmente residência da família Garmatter,construída em 1929, pudemos observar, graças ao parecer da arqueóloga da instituição,   que “ os porões do mesmo possuem uma arquitetura que não condiz com o restante da construção : parecem ser bem anteriores “. Suas abóbadas tijoladas lembram o Colégio dos Jesuítas de Paranaguá , onde teria sido encontrado até um velho mapa com um roteiro . As abóbadas tijoladas  também lembram a construção do túnel do Bosque das Mercês.
No Clube Concórdia de Curitiba, situado na mesma região do bairro  São Francisco, um alçapão no assoalho de um dos salões chama a atenção. E em reportagem exibida pela televisão um  ex-presidente  percorreu  o túnel  e mostrou, mais uma vez paredes tijoladas e abobadadas, desta vez, interrompidas pelo alicerce de uma obra, um pouco mais recente.
Com relação a este trecho do túnel, há mais uma hipótese: seria esconderijo de alemães e italianos  da Sociedade Garibaldi, também situada nas proximidades, perseguidos  em tempos de guerra?
O mistério continua,  e talvez alguns documentos e informações esquecidos  ainda possam esclarecer o grande mistério dos túneis de Curitiba.


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