quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A lenda do Rio dos Pássaros (RS)

       Ouvia lendas inesquecíveis sobre os sete povos e sobre o próprio município. Seu mundo interior povoava-se de figuras e dimensões encantadas. Destacava sempre uma em especial, a do nascimento do rio Uruguai, numa das muitas confrontações havidas entre o diabo vermelho dos índios, - o ANHAGUAPITÃ , - e São Pedro.
Certo dia o diabo, cansado de caminhar pelas matas, porque, nesse tempo, tudo isto aqui era só mato a perder de vista, o caaguaçu, o mato grande, de água não existindo nem as lagoas, nem o jacuí, nem o ibicuí: decidiu tirar uma sesta para refazer a as forças e continuar sua caçada de almas malvadas.
E tratou de se espichar num tapete de guanxumas alta. Caiu bem ao pé de uma figueira carregadinha de frutos maduros.
      Nesses tempo, povoava essas matarias que se estendiam longe, a fazer limites com Santa Catarina e as terras do rei da Espanha, uma raça de passarinhos pequenos e cantadores, chamada URU. Aquele dia, depois de saborearem também os figuinhos roxos e suculentos, resolveram dar graças a Deus, cantando o que era uma lindeza de se ouvir. Eram milhares de milhares, estendidos desde de a linha serranias e pinheiras das alturas de Lajes, ao norte, ali por onde hoje se levanta Bom Jesus e Vacaria, até aqui por estas bandas rasas, no extremo sudoeste, por onde se alargam os pampas de Santana Velha e da Barra do Quaraì.
O diabo, que tem um sono de pedra e ninguém consegue acordar quando está dormindo, naquela tarde não pode deixar de ouvir a orquestra dos passarinhos. Sua irritação era tamanha que resolveu dar um sumiço nesses bajuladores do Velhinho lá de cima...
     Unindo o gesto a palavra, encheu as bochechas vento, ficando com a cara em brasa, de tanto fazer força. Depois que tinha botado dentro da boca a maior quantidade de furacão, soprou com tanta fúria quanto podia, virando para o lado de onde lhe parecia provir o som.
A passarada tratou de se cambiar, atirando-se espaço a fora, num movimento único. Depois pensaram que se o diabo não queria que eles cantassem no fofo dos galhos e ramagens, então cantariam no ar mesmo fora de seu alcance. Lá em riba recomeçaram seu gorgeio, ainda mais bonito, mais alegre do que antes.
Furioso o diabo resolveu matar todos de uma vez só. Ouviu-se uma explosão, era como um tiro de canhão. E um horrível fedor de enxofre se propalou, na terra e no ar, deixando a bicharada tonta de cair.
Com aquele canhonaço que se ouviu por milhares de léguas ao redor, o velhinho São Pedro, que também andava cá na terra, desconfiou que aquilo não podia ser coisa boa.
Nisso o relampejo do sol, sobre as asas do miles de passarinhos que começavam a cair do céu a imitar uma chuva transparente, daquelas do tipo casamento da raposa, alertou o santo de vez.
    Levantando as mãos para o céu, pediu a benção do Espírito Santo – que também era uma ave, pois sempre aparece disfarçado de pombinha branca – numa tentativa de salvar os bichinhos da senha malvada que os estava exterminado aos miles.
Ergueu a mão direita na direção da passarada que caia, e a medida que o poder mágico de seus dedos ia atingindo os uruzinhos, foi acontecendo um milagre. As avezinhas que ainda tinham qualquer sopro de vida no corpo, foram se transformando em gota d´água, e as que já tinham morrido, se despencaram do alto para o chão, mudadas em pequenas pedras redondas e chatas, hoje conhecidas pelo nome de chanteiras, e que lembra pelo formato um passarinho de assas abertas.
     O volume de água foi tanto, a prosseguir pelo chão, por vales, matarias e campos, que o limite seco que separava o Rio Grande de Santa Catarina e da Argentina se tornou num rio enorme.
Foi assim que nasceu o rio dos Uruguai, o rio Uru-aa-i, rio dos passarinhos, outros chamam de “rio dos pássaros pintados”.

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