domingo, 22 de novembro de 2015

Lenda Do Hotel Yara- Bandeirantes




O Hotel Yara podia acomodar 200 hóspedes e tinha até um cassino 

A 9 km de Bandeirantes (Norte Pioneiro), pertinho do encontro das águas dos dois rios mais importantes da região, o das Cinzas e o Laranjinha, um hotel de arquitetura imponente, construído na década de 1950, sofre a ação do tempo, abandonado. Perto dele, na beira da estrada, outras construções da mesma época estão em situação semelhante. 

Em frente ao hotel, que tinha nada menos do que 200 quartos e abrigava até um cassino - onde o dinheiro corria a rodo nos carteados de pôquer -, uma fonte não para de jorrar. Dela, sai uma água termal. A insistente fonte, que traz para a superfície um líquido oriundo de uma profundidade de mais de 100 metros, a 32ºC, é a razão da existência do hotel e de toda essa infraestrutura. É também por causa da água, que teria até propriedades medicinais, que os atuais proprietários têm nas mãos um projeto milionário para transformar o lugar em estância turística. 

Porém, dono de uma história com ares de espetacular, repleta de glamour, pompas e de um fim trágico de seu fundador, o Termas Yara é assombrado por um fantasma, o da batalha judicial. Ele não deixa ir para frente os planos do casal que adquiriu as terras há oito anos. 

Tudo começou com um italiano naturalizado brasileiro, Domingos Regalmuto, homem que fez dinheiro com serrarias em São Paulo para depois comprar uma vastidão de terras, mais de 500 alqueires, no sertão norte-paranaense. Acostumado aos negócios, ele logo percebeu, nos anos 1930, que as águas que afloravam em suas terras tinham odor e paladar particulares. Em 1942, um laudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comprovou que a água era mesmo mineral hipotermal e de aplicação terapêutica. 

Bastou para que Regalmuto transformasse água em dinheiro. Passou a engarrafá-la e chamou a sua água mineral Yara de a ''deusa das águas''. Além disso, projetou e construiu o complexo termal, com a piscina abastecida pelo chafariz, e um hotel de causar inveja, só acessível a bolsos com um certo recheio, construído com banheiras nos quartos e materiais de primeira qualidade, coisa de europeu. Os menos abastados acampavam ou dormiam nos carros para poder usufruir dos poderes das águas e da lama do lago próximo à piscina, à qual muitos também atribuíam o poder de curar doenças. 

Quem tem toda essa história na ponta da língua e também bem registrada em material escrito é o serventuário da justiça aposentado Walter de Oliveira, 77 anos, sete deles morando dentro do hotel. ''O restaurante tinha até maitre. O carnaval era o melhor da região. Ônibus chegavam às dezenas trazendo gente para passar os finais de semana. No campo de pouso construído pelo Regalmuto dentro do termas, desciam os aviões da Real Aerovias, os Douglas DC-3, que faziam a linha São Paulo-Maringá'', ele conta. 

Em volta, o ''italiano'' criou uma estrutura que chegou a chamar de ''Cidade Yara'', vendendo lotes. Até igreja ergueu para servir aos seus hóspedes, a Capela São Domingos, inaugurada em 1º de setembro de 1954, data registrada em concreto no alto da torre. 

Tudo ia bem até que a saúde de Regalmuto começou a falhar. O problema era uma trombose, que lhe custou as duas pernas, amputadas, quando ele já passava dos 80 anos. A morte veio logo em seguida. Suicídio. O único herdeiro, Paulo Regalmuto, morreu dois anos depois, pilotando um carro envenenado com destino a São Paulo. Trombou com um caminhão em Cambará. 

No início da década de 1970, Dona Katerine Erdely, a mãe de Paulo, herdou tudo, mas, descontente, vendeu o lugar para Paschoal D'Andrea, um grande comerciante do ramo imobiliário. 

''O D'Andrea fez um trabalho excelente. Regularizou os 660 lotes que formavam a 'Cidade Yara'. Todos foram vendidos, mas pouquíssimos donos haviam aparecido para tomar posse. Aos poucos foi loteando partes rurais e começou o trabalho para levar o asfalto até o termas. Mas quando as máquinas finalmente chegaram para tornar a PR-519 uma realidade, ele ficou doente e morreu'', explica Oliveira. 

Os filhos de D'Andrea permutaram a área com a família Matsubara por uma outra fazenda em Cornélio Procópio. Começava o declínio e o abandono do Yara. Em 2002, o casal Rafaela e Cláudio Delgado comprou 48 dos 98 alqueires que restaram da propriedade. Mas até hoje não conseguiram regularizar a escritura.

Água medicinal para criar tilápias 
 
  

Rafaella Delgado, dentro do prédio que abrigava o hotel: propriedade já foi invadida por sem-terra e sofre com ação de caçadores 

O que tem de interessante a história do Termas Yara, tem de complicado o momento atual do lugar. Um imbróglio jurídico impede que o casal Rafaela e Cláudio Delgado, que comprou da família Matsubara, em 2002, 48 dos 98 alqueires da propriedade, regularize a escritura e coloque em prática o plano de transformar a fazenda em um complexo empreendimento turístico. 

A história de Cláudio Delgado, narrada por ele mesmo, desperta interesse. Filho de um boia-fria, ele relata que ajudou o pai a catar algodão nas fazendas de Sueo Matsubara, ainda menino. Aos 18 anos, partiu para São Paulo levando na bagagem só o que aprendera no extinto Movimento Brasileiro de Alfebetização (Mobral). 

Na capital paulista, arranjou vaga como contínuo de um empresário que deu-lhe estudo. Virou corretor da bolsa de valores, investiu bem e, desfazendo-se de sua carteira de ações da Ambev, pagou R$   1,8 milhão na parte da Yara que abriga o lago, a fonte de água termal, o hotel e a capela. 

''Cresci em Bandeirantes, vendo aquele tesouro todo que é o Yara. É uma sensação estranha. Sonhei com aquele diamante e hoje ele é meu. Porém, quero lapidá-lo e não posso. Hoje, cuido das ações de um grupo alemão que tem R$   35 milhões para investir no projeto de restauração e transformação em complexo turístico. Já tenho, inclusive, o plano diretor pronto. Só falta a questão jurídica'', lamenta o ex-catador de algodão. 

Em Bandeirantes, há quem não acredite que Delgado tenha prosperado tanto. Mas os fatos mostram que ele e a esposa não estão para brincadeira. Para planejar o futuro do empreendimento, contrataram um casal de arquitetos suíços radicados no interior de São Paulo. E para resolver a parte jurídica um advogado associado de um dos mais tradicionais escritórios de advocacia de Londrina. 

''O meu cliente não é um 'laranja', como já chegaram a dizer. Ele tinha condições financeiras sim para comprar a área. Temos inclusive o comprovante de que o dinheiro saiu da bolsa de valores'', destaca o advogado Frederico Vidotti de Rezende. 

O advogado explica que Cláudio Delgado fez a compra dos 48 alqueires por meio de um instrumento particular, um ''contrato de gaveta'', direto com Sueo Matsubara. 

''O Cláudio fez tudo certo, dentro da lei. Mas quando ele comprou já havia uma pendência jurídica em cima da propriedade, por isso, ele não a registrou. A fazenda toda, com seus 98 alqueires, teria sido arrematada no final da década de 1980 pelo Banestado, por conta de dívidas dos proprietários da época. Então, o senhor Serafim Meneghel teria comprado a dívida em créditos da família Matsubara e conseguiu fazer um acordo com o banco, ficando com parte das terras. Houve um embargo de arrematação por parte da defesa da família Matsubara, que ainda não foi julgado por causa do sumiço de uma carta precatória que foi enviada para a Justiça de Bandeirantes. Ninguém sabe onde esse documento foi parar'', explica o advogado. Com isso 36 alqueires da fazenda atualmente pertenceriam a Meneghel. 

Neste meio tempo começaram a aparecer os processos trabalhistas de ex-funcionários de Matsubara. A Justiça do Trabalho mandou as terras da Yara para leilão, mas excluiu os 48 alqueires de Cláudio Delgado do pregão. No último dia 12, os cinquenta alqueires restantes foram leiloados e arrematados por Rafaela, a esposa de Cláudio, por R$   700 mil. Sueo Matsubara recorreu e cancelou o arremate. 

Antes disso, o casal já havia recorrido aos serviços de advocacia de Rezende num embate com a Mitra Diocesana de Jacarezinho, que queria ficar com a capela São Domingos, e para se livrar da invasão de membros do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast), que chegaram a agredir o casal e a retirar objetos da sede da fazenda. Doze foram presos acusados de roubo. 

O advogado diz que por enquanto não pensa em litígio contra Matsubara e Meneghel, que estariam sendo corretos. Aguarda que a tal carta precatória apareça. ''Ou a boa vontade deles'', como ele diz. Enquanto isso, o casal usa a piscina de água termal com poderes medicinais para criar tilápias. ''Elas engordam muito mais rápido por causa da temperatura'', diz Rafaela. ''Ah! e não esqueça de escrever que sofremos com os caçadores, que entram aqui atrás de capivaras e pássaros'', completa a mulher. 

''A água é boa, mas tem que investir'' 
 
A família Matsubara é emblemática no Norte do Paraná. A partir do patriarca Takeo, o clã fez fortuna na lavoura. Mais tarde, os ''japoneses'' profissionalizaram time de uma das fazendas, e chegaram a disputar a primeira divisão do futebol paranaense. Sueo, um dos filhos de Takeo, presidia a equipe e sempre esteve à frente da maioria dos negócios da família. Ousado, em 1995 chegou a contratar o jogador Neto, ex-Corinthians, para jogar no seu time, que trocara Cambará (Norte Pioneiro) por Londrina. 

Mas o maior investimento dos Matsubara sempre foi em terras. Chegaram a ter uma dúzia de fazendas no Paraná e milhares de hectares no Sul do Pará. Em uma matéria publicada na revista ''Veja'', em 1995, Sueo teria declarado que uma dívida de R$   2,2 milhões junto ao Banco do Brasil representava apenas 20% do patrimônio da família. 

A Fazenda Yara foi apenas um dos bens administrados por Sueo. Simpático e de bom humor, ele atendeu à FOLHA por telefone. Por estar fora do escritório, justificou não ter muitos dados, mas confirmou o imbróglio jurídico daquela área. 

Por que o Termas Yara chegou a essa situação? 

''Quando eu comprei, já estava funcionando de forma muito precária. Era preciso muito dinheiro para reformar tudo. Depois eu fiz uma venda para o Serafim Meneghel e ele assumiu o negócio com o Banestado, pagando a dívida. Depois eu o paguei e ele me devolveu uma parte da Yara. Mais terde vendi para o Cláudio'' 

O que o senhor sabe sobre a carta precatória que teria sumido? 

''Não sei nada dessa história''. 

Por que o senhor vendeu a Yara? 
''Nunca gostei de terra. Meu pai e meus irmãos é que gostavam mais. Eu gosto é do comércio, de negociar. Terra não é comigo. Hoje, além do time, que hoje só tem juniores e juvenis, tenho um loteamento em Bandeirantes e vou mexendo com outras coisinhas. Já estou com 70 anos. Tô bem de saúde, mas não adianta morrer de trabalhar. Tenho que aproveitar o restinho da vida. A água lá da Yara é muito boa, mas precisa de um investimento grande, do contrário, não compensa. 

O senhor já foi chamado de ''Rei do Algodão''. Parou de plantar? 

Deus me livre! Não quero mais saber de lavoura. 

37 comentários:

  1. vapo meu eu nunca quero ir neaae hotel de dia ou denoite

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  2. #VIMPELORENAAAAAAAAAAATO <3

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. vim pelo Renato e pela curiosidade tbm kkk

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  5. Respostas
    1. Um Youtuber de Londrina. Que tem no seu canal os caçadores de rondas e eles visitaram o hotel. Deve ser por isso :)

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  6. Eu vim pelo Renato Garcia adoro ele é os vídeos dele então eu vim pela descrição do vídeo

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  7. Vim pelo Renato,a história desse lugar é loca mesmo

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  8. Legal que nesse blog citaram meu avô, é uma pena que o hotel ficou desse estado.

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